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S.O.S.: Intérpretes na Educação

Qual o real preço que tem sido pago para atuar como um tradutor intérprete da língua de sinais no atual sistema de Educação brasileira? Talvez, o preço da honra, do caráter e da honestidade estejam em jogo!

Minhas experiências como intérprete profissional, ao longo de quinze anos tem me levado a refletir sobre esta e outras questões, mais precisamente sobre as angústias amargas que os intérpretes acumulam e carregam em suas bagagens.

Interessante que, sempre que nos referimos a “bagagens”, nos remetemos imediatamente ao que chamamos de background da vida profissional de cada indivíduo que lhe serve como parâmetro para contribuir, analisar, julgar, decidir e prosseguir (pelo menos é o que se espera na construção e consolidação de qualquer carreira). Entretanto, a lamentável verdade é que de nada tem servido tais experiências, pois quando analisamos a prática de intérpretes no espaço escolar (em sua maioria) passa a valer a existência de regras ocultas, uma espécie de moral própria deste espaço social. Estas regras consistem basicamente em anular as primeiras e acumular as“novas” experiências. Resumidamente, anular-se, calar-se e submeter-se caso queira ser aceito, já que, de alguma forma o sistema fez com que fosse recebido.

Onde estão os pressupostos teóricos que antecedem nossa prática profissional? Quais argumentos podem nos servir como álibi mediante esta avassaladora realidade? Onde estão os renomados autores cujos discursos sem prática se transformam em falácia inaudível quando precisamos bradar citando-os em nosso favor? Simplesmente, são todos desconhecidos e ignorados como nós o somos. Ninguém ouve! Ninguém escuta! Afinal, não há mais espaço.

Mesmo assim, continuamos na berlinda, sempre colocados a prova durante todo o tempo. Continuamos em meio às arenas nos digladiando. Mas, quem são os verdadeiros leões? Quem são as presas? Se de um lado temos a notória e convicta bandeira flamejante da eterna angústia dos professores (alguns educadores) que dizem não terem sido capacitados, por outro lado, temos intérpretes tropeçando decadentemente no antagonismo de sua soberania e mediocridade profissional. Está, então, pintado o quadro. Esta é a imagem de uma sociedade oprimida e dizimada mais uma vez pelo sistema.

Não é tão fácil quanto nos pareça, conforme o costume, atacar e rotular a educação e seus profissionais sucateados, entretanto, as evidências não se dão ao trabalho de esconder. Diferentemente do ofício do intérprete da língua de sinais que está nascendo nesta sociedade. Será preciso ser capacitado para compreender a necessidade de dividir e interagir respeitosamente com outro profissional no mesmo espaço de trabalho? Onde está esta capacitação milagrosa que trará a tona toda a afetividade e encanto na prática educativa, quando na verdade tais quesitos, em certos casos, jamais existiram? Quando e como admitir que minha prática esteja corrompia por me deliciar com as aprovações efêmeras outorgadas pelo sistema, me reconhecendo exímio tradutor, quando na verdade, nem eu mesmo me reconheço como tal.

É preciso que haja harmonia, urgente! Está na hora de darmos um basta aos sistemas que impõem suas idéias e normas sobre nossa atuação como intérpretes, vendendo equivocadamente a concepção de que somos meros objetos de uso pessoal e exclusivo daquela turma, daquele professor e daquele aluno. Os intérpretes estão sendo comercializados e prostituídos a um preço que possa calar os estrondos de uma educação inclusiva sem sucesso e totalmente falida. Temos sidos submetidos a surras e humilhações dolorosas, todos os dias, por compradores insatisfeitos com os produtos que adquiriram.

O que fazer quando, depois de vendidos, detectamos que a propaganda foi extremamente enganosa e que agora já é tarde demais? Triste para quem compra; triste para quem vende; desgraça para o produto. Chega de maquiagem! Quem trabalha não o faz por hobby e sim por necessidade financeira. Portanto não há maior, não há hierarquia nesta relação coletiva de trabalho entre professor e intérprete. Não tenho o direito de chorar minhas mazelas e angustia profissionais, usando alunos como álibi para lavagem de roupa suja e intérpretes como tanque para escoamento desta sujeira. Também, não tenho o direito de me corromper mediante as dificuldades aparentando cumplicidade quando na verdade sou conivente ao fracasso ou negligente com uma verdadeira prática profissional.

Se, nós intérprete, estamos contribuindo para a história que alguém deseja escrever à custa de nossos duros entraves, que seja com mérito e honra. Apenas escreverão, mais uma vez. Entretanto, temos a chance, agora, de tecermos o melhor enredo desta saga. Talvez, sejamos os próprios autores e escritores desta vez.

Fica então, o apelo de respeito, sensibilidade e cumplicidade para a realização de um trabalho que torna-se impossível concluí-lo individualmente. Sejamos um... Coletivamente!

Saudações

Giraud

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